quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cálculos Errados

Longe de todos os sentimentos, isolada de qualquer tipo de afeto, ela se sente segura. Esperando que as portas se abram para sua frieza cauculista, sem dramas, sem muitos esforços. Ela já não sente mais as pontas dos dedos. Estes congelam com o frio de sua alma mórbida. Aos poucos o gelo chegará ao coração, paralisando, assim, qualquer batimento que a torne humana, banindo as cores do seu mundo. Mas é o que ela espera anciosamente, é o que ela busca e tem buscado durante todos esses anos. Sem imaginar o abismo de solidão que a espera.
Agora que já não pode mais sentir, ouvir, tocar. Agora que sabe como afastar qualquer tipo de fraqueza humana, ela vive só. Como pedira a Deus, ou ao diabo. Talvez ela não fosse assim. Mas o que a fez pensar dessa maneira? O que faz um ser humano desistir das pessoas, dos sentimentos por elas e da própria felicidade para fingir uma força, um poder inexistente? O que ela pensou que conseguiria?
Melhor? Não. Ela não está melhor em nada. Agora ela sofre sozinha. Não tem com quem dividir sua carga, seus problemas. E isso a machuca! Dá pra ver, pra sentir. Então por que não desiste? Por que continua seguindo em frente com essa falsa idéia de frieza?
Nem os risos, nem os gestos espalhafatosos, nem nada esconde sua tristeza. Enquanto conversa e sorri ao lado de pessoas que na verdade classifica como fracos, suas veias pedem sangue, calor. Seu corpo grita desesperadamente pedindo ajuda! Tirem-me daqui, dessa solidão. Ouço essas palavras através dos seus olhos, que quase já não tem mais brilho.
Mas ainda há uma chance! Ainda há um modo de fazê-la enchergar o que está em sua frente. Trazê-la para este lado, tirá-la do exílio em que se encontra. Então, não desista dela. Continue chamando seu nome, ela irá ouví-lo. Pegue a sua mão com força, puxe-a para cima de uma vez por todas! Ela precisa disso, precisa de sua ajuda. Só está fraca demais para admitir isso. Mas nós podemos ver o seu desespero, então traga-a devolta para nós. Cuidaremos dela e de seus ferimentos de guerra.

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